No dia 12 de agosto de 2024, a tarde fria no campus da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) foi marcada por uma conquista significativa para o padre Bruno Rodrigues Toledo, de 32 anos. O pároco da paróquia Sagrado Coração de Jesus, localizada no Jardim Jangadeiro, na forania São José, apresentou e defendeu sua dissertação de mestrado em Liturgia, com o título “Maria, Modelo e Mãe da Igreja - Um estudo sobre a reforma litúrgica mariana do Concílio Vaticano II, à luz da Exortação Apostólica Marialis Cultus, de Paulo VI, em interface com a inteligência senciente, de Xavier Zubiri”, sendo aprovado sem restrições.
A ideia de seguir esse caminho acadêmico foi germinada ainda no final da graduação, durante uma conversa com seu professor João Claudio Rufino, que provocou o jovem estudante a pensar sobre seus interesses mais profundos. “Naquela conversa, mencionei dois temas de interesse: Mariologia e Sagrada Escritura. O professor sugeriu que unisse ambos os temas e, então, me apresentou a Exortação Apostólica Marialis Cultus, que conecta perfeitamente esses interesses", relembra padre Bruno. O documento de Paulo VI, publicado em 1974, buscava estabelecer novas diretrizes para o estudo da Mariologia, propondo uma reflexão que partisse de quatro diretrizes principais: bíblica, litúrgica, ecumênica e antropológica. Foi a partir desse convite para estudar Maria sob uma nova ótica que padre Bruno decidiu aprofundar-se no tema.
Entretanto, a trajetória acadêmica de padre Bruno não seguiu um caminho linear. No final da graduação, em um período marcado pela intensa preparação para a ordenação e os primeiros anos de ministério, ele adiou o início do mestrado. No entanto, o chamado para retomar seus estudos surgiu de uma maneira inesperada. Após ser diagnosticado com câncer na tireoide, ele foi afastado por meses para tratamento e recuperação. Foi nesse momento de introspecção e inatividade ministerial que o padre Boris Agustin Nef Ulloa, diretor da faculdade, fez um telefonema decisivo. “O padre me ligou perguntando sobre minha saúde e, ao mesmo tempo, me desafiou a retomar o mestrado, dizendo que as inscrições estavam para se encerrar. Foi um incentivo e tanto, uma provocação que me fez agir", compartilha padre Bruno.
Com o projeto em mãos, padre Bruno seguiu adiante e enviou ao professor orientador, Valeriano Costa, e, para sua surpresa, foi aprovado no dia seguinte, em junho de 2021. “Foi um momento de alívio e alegria. Liguei imediatamente para Dom Luiz Antônio Guedes, nosso bispo à época, que me apoiou desde o início e ficou feliz com minha decisão”, conta. O percurso, claro, não foi sem obstáculos. Além das dificuldades de tradução de textos complexos em espanhol e francês, a dissertação foi marcada por um atraso inesperado, pois o orientador de padre Bruno, professor Valeriano, sofreu um AVC que afetou o andamento das orientações.
Apesar dos desafios, a dissertação, que aborda a interface entre a reforma litúrgica mariana de Paulo VI e a filosofia de Xavier Zubiri, foi finalizada com êxito. Hoje, padre Bruno reflete sobre sua experiência: "Não foi fácil, mas toda essa jornada foi repleta de aprendizados. Cada etapa, desde o diagnóstico de câncer até a defesa da dissertação, me fortaleceu ainda mais na fé."
Sobre o futuro acadêmico, padre Bruno admite que o desejo de continuar seus estudos ainda é algo em mente. "Talvez, mais para frente, eu engate um doutorado, mas por enquanto, meu trabalho como pároco e vigário forâneo exige minha atenção", revela. Ele ainda se sente grato pela oportunidade de servir à Igreja e à Diocese de Campo Limpo, expressando sua gratidão a Deus, ao Bispo emérito Dom Luiz e ao atual bispo Dom Valdir José de Castro, que sempre estiveram ao seu lado. "Sou grato a todos que oraram e me apoiaram, especialmente durante o tratamento do câncer", conclui o padre, que vê sua vida e missão como um reflexo da superação e da força da fé.
