
Pe. Alfredo César da Veiga
Setembro é mundialmente lembrado como o mês de prevenção ao suicídio. No Brasil, a campanha Setembro Amarelo busca romper o silêncio e reduzir o estigma em torno de um tema difícil, mas urgente: o suicídio, especialmente entre jovens. Embora seja desconfortável, falar sobre isso salva vidas. O silêncio, ao contrário, agrava o problema.
Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. No Brasil, o cenário preocupa: entre 2010 e 2021, o número de adolescentes que tiraram a própria vida aumentou 81%, passando de 3,5 para 6,6 casos por 100 mil jovens. As regiões Norte e Sul do país são as mais afetadas, com índices bem acima da média nacional.
É importante compreender que o suicídio juvenil não surge de repente, mas se manifesta por meio de um processo: pensamentos de morte, comunicações diretas ou indiretas, tentativas e, por fim, o ato consumado. Pesquisas revelam que até 63% dos adolescentes já relataram, em algum momento, ter tido ideias desse tipo. Muitos desses sinais podem ser percebidos e acolhidos antes da tragédia.
O drama, no entanto, não se resume a estatísticas. Famílias que enfrentam a perda de um filho por suicídio carregam a dor, a culpa e o peso do estigma social. Ainda hoje, muitos veem o suicídio como fraqueza ou egoísmo, o que não corresponde à realidade. Esse julgamento equivocado aprofunda o sofrimento e afasta os jovens da ajuda. Ao contrário do que alguns acreditam, falar sobre suicídio não incentiva novas mortes; pelo contrário, abre espaço para que adolescentes expressem suas angústias sem medo ou vergonha.
Outro ponto essencial é perceber que, na maioria das vezes, quem pensa em suicídio não deseja morrer, mas sim acabar com uma dor considerada insuportável. Trata-se de um sofrimento psicológico intenso e contínuo, vivido como sem saída. Reconhecer isso é fundamental: prevenir o suicídio significa reduzir esse sofrimento, mostrar alternativas e oferecer apoio concreto.
Nesse cenário, as instituições eclesiais e os grupos de jovens podem desempenhar um papel decisivo. A paróquia muitas vezes é o espaço mais próximo e acessível a adolescentes em crise, sobretudo em comunidades vulneráveis. Se bem preparados, líderes pastorais podem identificar sinais de alerta, escutar com empatia e encaminhar para apoio especializado. Não substituem o tratamento clínico, mas podem ser pontes entre o jovem em sofrimento e os serviços de saúde. Perguntar, ouvir e acompanhar podem significar a diferença entre a vida e a morte.
Cada vida interrompida representa não apenas a ausência de um jovem no presente, mas também um futuro perdido. O impacto se estende às famílias, amigos e comunidades inteiras. Por isso, prevenir o suicídio juvenil exige não apenas políticas públicas de saúde mental, mas também a atuação conjunta das igrejas, das famílias e da sociedade.
O Setembro Amarelo nos recorda que o suicídio não deve ser tabu, mas enfrentado como questão de saúde pública. Conversar com os jovens, levar a sério suas angústias e oferecer apoio são atitudes que salvam vidas. O silêncio mata; o diálogo abre caminhos para a esperança.

Pe. Alfredo César da Veiga
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