A Diocese de Campo Limpo realizou, na manhã de terça-feira, 16 de setembro, a formação permanente do clero da Região Episcopal 2, reunindo padres das paróquias das foranias Itapecerica da Serra e Embu das Artes no Seminário Maria Mater Ecclesiae. A Região Episcopal 2 contempla 25 paróquias e uma Unidade Pastoral e tem o padre Sebastião Gomes Neto como vigário episcopal e organizador da atividade. O encontro contou com a presença de Dom Valdir José de Castro, bispo diocesano, e teve como tema 'A amizade e a afetividade como indicativos da saúde sacerdotal. Além disso, foram tratados sinodalidade e indicações pastorais.
O espaço do encontro foi gentilmente cedido pelos padres Legionários de Cristo. O encontro começou cedo, às 8h, com um café da manhã, proporcionando não apenas formação, mas também uma valiosa oportunidade de encontro fraterno entre os presbíteros.
O presbítero sinodal como mediador
Dom Valdir abriu os trabalhos abordando o conceito do "presbítero sinodal", definindo-o como aquele que é "mediador da comunhão, da participação e da missão". O bispo diocesano enfatizou que essa mediação vai além dos sacramentos: "O sacerdote é alter Christus não só na hora que está no altar, na consagração, mas também quando está pelas ruas, visitando as famílias, animando as pastorais".
Refletindo sobre os desafios contemporâneos, Dom Valdir destacou a necessidade de renovação mental: "Se não renovamos a mente, não mudamos. Preciso renovar o modo de pensar à luz do Evangelho." Ele citou São Paulo aos Romanos: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente."
O bispo também resgatou a etimologia da palavra "pastor", explicando que deriva de "pasto" e significa "levar para pastar, fazer comer". "Essa é a nossa missão. Para que pastos eu levo esse povo? Que comida ofereço?", questionou, incluindo nesse "alimento" tanto a Eucaristia quanto a motivação para o trabalho pastoral em uma "igreja em saída".
Dom Valdir estimulou os padres a serem animadores das comunidades no caminho evangelizador da Diocese. — Imagem: Pe. Rodrigo Antonio
Caminhar Juntos: metodologia sinodal em prática
O padre Ezaques Tavares, coordenador de Pastoral da Diocese, detalhou a implementação do subsídio “Caminhar Juntos”, lançado em agosto como preparação para o 7º Plano Diocesano de Evangelização.
"A sinodalidade não é um evento da igreja, não é uma palavra que está chegando ao fim. A sinodalidade é um jeito de ser igreja que parece ser o jeito que a igreja vai ser", explicou o padre Ezaques, esclarecendo que o processo visa mudar a mentalidade para entender "a igreja não como estruturas rígidas, prédios, concretos, mas a igreja formada por pessoas".
A metodologia propõe três encontros baseados no tripé da comunhão, participação e missão, com grupos de no máximo dez pessoas utilizando a "escuta no espírito". "Organizamos os encontros para sensibilizar a gente a estar com o outro, para olhar o outro, para escutar o outro, para conviver com o outro", detalhou.
O coordenador pastoral também incentivou os padres a motivarem as comunidades a participarem da escuta, explicando que as contribuições dos grupos servirão como base para a elaboração do sétimo plano, com prazo até junho de 2026.
Saúde integral: a dimensão humana do ministério
Um segundo momento foi conduzido pelo padre Antônio César Torres, psicólogo e assessor da formação, que trouxe uma reflexão sobre a saúde integral do presbítero baseada na logoterapia de Viktor Frankl.
Falando sobre os três tipos de valores que dão sentido à vida, o padre Antônio sublinhou a importância do equilíbrio entre os valores criativos (o que criamos), vivenciais (o que recebemos) e atitudinais (como escolhemos reagir ao inevitável). "Nós padres estamos muito no homofaber, do fazer, e não do receber. Perdemos a capacidade da contemplação, a capacidade de escutar o outro, de valorizar o outro", observou.
Sobre a importância da amizade sacerdotal, o padre Antônio foi categórico: "Só o outro padre saberá o que se passa no coração de outro, por experiência pessoal. Quando os sacerdotes caíram, não porque eram fracos, mas porque estavam sozinhos. Quando se levantaram, não porque eram fortes, mas porque tiveram um amigo".
Ele concluiu resgatando as palavras de Jesus: "Já não os chamo servos, mas amigos", explicando que “o servo obedece porque deve, o amigo obedece porque ama”.
Magistério papal e perspectivas futuras
A preocupação com a formação não é apenas um detalhe organizativo, mas parte da missão da Igreja desde o Concílio Vaticano II. A proposta da formação permanente também dialoga com o magistério do Papa Francisco, que insistiu na necessidade de um processo contínuo, humano e integral.
O encontro também abordou outros projetos diocesanos em andamento, como o Diretório de Catequese, que propõe uma integração inovadora entre catequese e liturgia, e o Diretório dos Sacramentos, elaborado em comunhão com as dioceses da província eclesiástica.
A formação foi concluída com um almoço fraterno, reforçando a importância da comunhão entre os presbíteros como elemento fundamental para o exercício do ministério sinodal.
