Primeiras sessões do Conselho Permanente da CNBB abordam migrações e dados sobre religião no Censo 2025

A sede da CNBB recebe de hoje até quinta-feira, 3, a reunião do Conselho Permanente, que reúne a Presidência da Conferência, os presidentes das Comissões Episcopais e os representantes dos Regionais. Na pauta, vários temas importantes sobre a missão da Igreja na atualidade, como as migrações, o novo contexto eclesial com a eleição do Papa Leão XIV, os 70 anos do Conselho do Episcopado Latino Americano e Caribenho (Celam) e os encaminhamentos sobre as Diretrizes da Ação Evangelizadora.
No início da reunião, os vice-presidentes da CNBB recordaram a motivação do Papa Leão XIV aos bispos, na última semana, para que sejam “homens de esperança”: “quando o caminho do povo se torna mais penoso, o Pastor, pela virtude teologal, ajuda-o a não desesperar: não apenas com palavras, mas com a sua proximidade”.
Também houve a saudação do núncio apostólico no Brasil, dom Giambatistta Diquattro, aos membros do Conselho, destacando o trabalho conjunto em vista de renovar o compromisso de anunciar o Evangelho e a centralidade de Cristo, além da motivação para que as Igrejas particulares promovam iniciativas educativas em vista da promoção da paz e da não-violência.

Migrações
A análise de conjuntura social deste mês abordou o tema das migrações. O bispo de Carolina (MA) e presidente do grupo de Análise de Conjuntura Padre Thierry Linardy, dom Francisco Lima Soares, apresentou o estudo realizado iniciando com referências bíblicas das migrações, inclusive no início do cristianismo, uma “religião que se faz no caminho, indo e vindo, de lá para cá, para além de quaisquer fronteiras geográficas ou culturais”. Ele também recordou que os Papas Francisco e Leão têm a migração em sua história e, contextualizou o problema da migração em nível internacional que é consolidado como um dos fenômenos mais complexos e desafiadores da atualidade.
As migrações, segundo a análise, refletem desequilíbrios econômicos, conflitos armados, crises ambientais e perseguições políticas em diferentes partes do mundo. Outros pontos analisados dizem respeito às transformações nos fluxos migratórios influenciadas pela globalização, o aumento dos discursos e práticas de xenofobia e o crescente movimento da indiferença por parte de Estados e sociedades.
Contribuição da Igreja
A análise tratou ainda da contribuição da Igreja diante dessa realidade, especialmente com a instrução “Erga migrantes caritas Christi” (A caridade de Cristo para com os migrantes), de 2004, do então Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, considerada uma resposta eclesial às novas necessidades pastorais dos migrantes a fim de conduzi-los a transformar a experiência migratória em ocasião ocasião de crescimento na vida cristã e de nova evangelização e missão; e a mensagem do Papa Francisco para Migrantes em 2015, “Igreja sem fronteiras, mãe de todos”.
No atual contexto, é necessária uma ação coletiva frente à crise humanista e à indiferença, além das limitações dos organismos internacionais. Apesar disso, há iniciativas e vozes internacionais que apontam para a possibilidade de rearticulação de compromissos éticos e solidários. O Papa Leão XIV, por exemplo, demonstrou sintonia com o legado do Papa Francisco frente à realidade da migração.

Migrações no Brasil
Com o olhar para o contexto brasileiro, há desafios específicos que se entrelaçam com questões sociais, econômicas e políticas internas. Houve aumento significativo no fluxo de migrantes e refugiados, especialmente vindos de países como Venezuela, Haiti e Senegal. O Grupo de Análise de Conjuntura observou que o Brasil tem adotado um marco legal relativamente avançado com a Lei de Migração 13.445/2017, que reconhece direitos dos migrantes e propõe princípios humanitários de acolhimento. Entretanto, a implementação dessas diretrizes tem sido desigual, observou o grupo.
A crise das migrações é ainda marcada por um profundo esvaziamento dos princípios de solidariedade, corresponsabilidade e apoio coletivo, segundo a análise. “As políticas de acolhimento e a integração de migrantes fazem parte de um cenário igualmente problemático. Apesar da Lei da Migração avançada, sua aplicação esbarra entre vários obstáculos, como falta de integração entre a união e os estados, e a falta de estruturas para a aplicação das políticas”, apontou dom Francisco.
De forma positiva, foram apresentadas experiências exitosas de acolhida e suporte a migrantes, refugiados e apátridas no Brasil, especialmente promovidas pela Igreja Católica em vários estados do país.
Censo 2022
Na sequência das atividades da manhã, o bispo de Petrópolis (RJ) e presidente do Instituto Nacional de Pastoral Padre Alberto Antoniazzi (Inapaz), dom Joel Portella Amado, apresentou a análise de conjuntura eclesial, que abordou os resultados do Censo 2022 a respeito da religião. No mês passado, foram divulgados os números que apontam 100.216.153 católicos no Brasil, o que corresponde a 56,75% da população brasileira.
A análise do Inapaz apresentou as primeiras impressões dos resultados do Censo, de acordo com dom Joel. Em sua exposição, ele tratou do contexto, das condições e das limitações da coleta de dados do Censo, como a escolha por não contabilizar os dados de crianças até 10 anos e o não detalhamento das diferentes igrejas evangélicas. No documento, foram propostas algumas análises a partir de diferentes perspectivas e motivada a reflexão sobre os fatores que influenciam o resultado apresentado pelo IBGE, no qual se observa um crescimento da população não acompanhado pelo número de católicos.
A explicação sobre os números passa, segundo a análise, pelo descolamento entre indivíduo e instituição/comunidade, influenciado por algumas hipóteses: a migração religiosa, a individualização da crença e a diminuição da chamada dupla ou aparente pertença de indivíduos em duas religiões, como os pertencentes a religiões de matriz africana que se autodeclaravam católicos há algumas décadas.
A opção feita pelo INAPAZ para a análise dos dados relaciona os números divulgados pelo IBGE, com o discernimento feito pela CNBB sobre as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora e as indicações do Sínodo sobre a Sinodalidade. Assim, a reflexão em vista de uma ação frente a essa realidade, segundo dom Joel, passa pela configuração eclesial, pela sinodalidade e pela ministerialidade.
O arcebispo de Porto Alegre (RS), dom Jaime Spengler, presidente da CNBB, não participou do início da reunião, pois está em Roma, onde entregou ao Papa Leão XIV um documento com as contribuições dos Conselhos Episcopais da América Latina, da África e da Ásia para a COP 30, a Conferência do Clima que será realizada no Brasil no mês de novembro. Preside as sessões, por enquanto, o arcebispo de Goiânia e primeiro vice-presidente da CNBB, dom João Justino de Medeiros Silva.