Padre Ezaques assume a Coordenação de Pastoral com desejo de contribuir
Ao assumir a função de coordenador geral da Pastoral Diocesana, padre Ezaques pretende aplicar a experiência e vivência adquiridas com as dezenas de Comunidades Eclesiais Missionárias implantadas ao longo dos anos.
1 Fev 2024
Pe. Ezaques da Silva Tavares
No mês de novembro, Dom Valdir José de Castro, ssp, anunciou a nomeação do padre Ezaques da Silva Tavares como coordenador geral de Pastoral. Atualmente à frente da paróquia Santa Maria Margarida Alacoque, no Jardim São Judas Tadeu, forania Taboão da Serra, padre Ezaques aceitou a missão com entusiasmo, destacando seu compromisso de coordenar a ação pastoral em sintonia com o que pede a Igreja local e universal.
Nascido no Rio de Janeiro, na capital carioca, padre Ezaques cresceu no distrito de Morro do Coco, em Campo dos Goytacazes, até os 16 anos. Com uma abordagem reflexiva, o sacerdote e também professor de pedagogia expressa não apenas a sua visão sobre a pastoral diocesana, mas como deseja oferecer sua colaboração. Ele compartilha sua experiência de transformação ao ser impactado pelo documento número 100 da CNBB, intitulado "Comunidade de comunidades: uma nova paróquia", publicado em 2014. O documento, que propõe uma reformulação significativa na abordagem paroquial, levou padre Ezaques a reavaliar e ajustar sua prática pastoral evangelizadora.
Ele destaca a importância de olhar com generosidade e misericórdia para todas as realidades, saindo do comodismo e agindo à luz da opção preferencial pelos pobres.
A nomeação de padre Ezaques representa não apenas uma mudança administrativa, mas a continuidade de um compromisso com a renovação pastoral e o serviço à comunidade, baseados em sua profunda reflexão e prática transformadora alicerçada na Palavra. A missão do coordenador geral da Pastoral é guiada pela vontade de ir ao encontro das pessoas, alimentada pela Eucaristia, visando contribuir para a construção do Reino definitivo.
Este é o início de uma nova fase na Diocese com padre Ezaques liderando a coordenação pastoral, na medida em que traz consigo uma abordagem comprometida e reflexiva para os desafios que se apresentam. Durante a entrevista com Diocese em Ação, padre Ezaques nos apresentou suas impressões e perspectivas para a missão evangelizadora na Diocese.
A coordenação de Pastoral de uma Diocese é sempre desafiadora. Como foi receber este convite?
Receber o convite para assumir a coordenação de Pastoral foi surpreendente para mim. Nunca imaginei um dia ser escolhido para uma função tão importante. No passado, talvez eu nem tivesse aceitado se fosse apenas uma nomeação direta de Dom Valdir. No entanto, foi um processo democrático. O bispo ouviu os padres e fiquei surpreso quando meu nome se destacou com alguma força nesse processo. Hoje, entendo que essa escolha está relacionada à percepção do trabalho missionário que desenvolvi e à confiança dos meus irmãos padres.
Assumi a função considerando essa percepção do trabalho missionário e a ideia de uma Igreja mais ampla. Acredito que posso colaborar nessa linha, levando a mensagem da Igreja em saída, da Igreja em contato, da Igreja mais livre das amarras. É isso que tenho em mente.
O seu trabalho missionário ajuda na percepção da Igreja local de que é necessária uma conversão pastoral de todos?
Eu não sei se há uma percepção mais ampla desse processo, mas, com base na minha própria experiência, acredito que pelo menos um despertar está acontecendo. Lembro-me quando iniciei esse trabalho na paróquia Santa Cruz, sem ter uma compreensão clara do que isso significava. Quando compartilhávamos isso com alguns colegas padres, a reação inicial era negativa. Muitos achavam que era inútil, que não funcionaria ir à casa de alguém para celebrar uma missa com 5 ou 6 pessoas.
Hoje, percebo que não apenas o trabalho não é mais desvalorizado, mas também gera uma certa curiosidade. As pessoas não acreditam o quão simples é ser comunidade. É como a igreja mais simples dos Atos dos Apóstolos acontecendo diariamente. Hoje não só há curiosidade, como as pessoas realmente vêm me procurar para entender o processo. Faço isso há cerca de 12 anos e meu ânimo e vontade de ampliar os trabalhos missionários se renovam sempre. A discussão [uma Igreja em saída] está estabelecida, e não acredito que vá recuar. Quem resistir a esse trabalho perderá tempo.
O que penso sobre o trabalho pastoral, durante minha estadia aqui, é que farei o máximo possível para trabalhar com as paróquias, foranias e padres, tentando aplicar ao máximo, em todas as ações, o sentimento de pertença à Igreja que acolhe, zela e cuida.
Quais expectativas para daqui a três anos? O que o senhor vislumbra?
O que me deixa otimista é o fato de meu nome ter sido levantado pelos padres. Isso me confere um respaldo significativo; se eles me escolheram, devem ter percebido em mim algo que poderia funcionar como coordenador de pastoral. Isso, para mim, representa uma porta aberta para colaborar com todos.
Com base nas interações que tenho tido recentemente, percebo um crescente interesse nas comunidades missionárias e nas missões em todos os aspectos. As pessoas querem participar, desejam fazer essa experiência. Portanto, acredito que o terreno está mais propício para avançarmos como Igreja missionária.
Minha verdadeira expectativa é contribuir para fortalecer essa percepção missionária em todas as áreas pastorais.
Minha verdadeira expectativa é contribuir para fortalecer essa percepção missionária em todas as áreas pastorais. Espero que toda nossa Diocese compreenda e assuma a ideia de "Igreja em saída" como condição essencial. Minha esperança é que, daqui a três anos, essa ideia esteja mais consolidada e efetivamente em prática.
São inúmeras possibilidades no trabalho missionário, sendo necessário apresentá-las para que cada um escolha o que melhor se alinha com sua vocação. Estou aqui para oferecer apoio e orientação nesse processo.
Como o senhor percebe atualmente a realidade da nossa Diocese?
A Diocese, em minha visão, é uma micro parte de uma Igreja macro. Acredito que tudo o que está acontecendo na Igreja globalmente tem seus reflexos aqui na Diocese. Atualmente, observo uma Igreja que está, de certa forma, dividida, em meio a diferentes correntes e linhas. Para mim, a verdadeira linha da Igreja é a linha de Jesus, sem rótulos ou categorias específicas.
É notável a presença de uma diversidade de abordagens, desde linhas conservadoras e progressistas até correntes libertadoras e carismáticas. Essa divisão, que sempre me incomodou desde meus primeiros anos como padre e, hoje, ainda mais, reflete um clero que se organiza em pequenos grupos, às vezes colidindo entre si, e, em alguns casos, até mesmo se confrontando, como temos visto em todo o mundo.
Pessoalmente, eu não adoto uma linha específica. Minha orientação é a linha da Palavra, e busco colocar a Palavra em movimento. Desde o início, quando aceitei essa função, me propus a estar com os padres, independentemente das diferentes perspectivas que possam existir. Todos fazemos parte da mesma Igreja, e as percepções individuais não podem se sobrepor ao que a Igreja nos pede, nem ao amor, à caridade, à paciência, ao perdão.
Compreendo que essa divisão reflete os desafios que o mundo enfrenta hoje, como as polarizações entre direita e esquerda, certo e errado. Esse é, sem dúvida, um dos maiores desafios que enfrentamos na Diocese, e é crucial encontrar maneiras de superar essas divisões e trabalhar juntos em prol do Evangelho.
Qual o plano de trabalho ou projeto específico que o senhor pretende implantar?
Estou chegando, conhecendo de perto a realidade atual. Acredito que cometemos um equívoco ao criar projetos para a Igreja baseados em cronogramas, tentando vencer o calendário. A missão me ensinou que o trabalho precisa ser feito, mas tudo acontece no tempo de Deus, não no nosso.
O plano que tenho em mente é ser um facilitador, promovendo a compreensão de uma Igreja em saída para o máximo de pessoas possível, em paróquias, pastorais e movimentos. Inicialmente, vou dedicar-me a conhecer as pastorais e grupos existentes. Como padre, só me entendo verdadeiramente dentro do contexto missionário. Quero, pelo menos, ter estimulado a discussão e despertado a curiosidade no máximo de pessoas que eu puder alcançar.
Previu ou está prevendo algum tipo de organização pastoral?
Essa é uma preocupação tanto minha quanto de Dom Valdir. Atualmente, nossa Diocese está organizada em áreas pastorais, mas, se você perguntar a alguém, provavelmente não saberá em qual área está. Isso se tornou algo para inglês ver, algo que nem eu mesmo lembrava. Provavelmente, quando essa estrutura foi criada, a Diocese queria ter uma visão geral do que estava acontecendo, uma espécie de fotografia do momento. É importante saber sobre todos os trabalhos e grupos, mas afirmar que um grupo que ocorre apenas em um local tem caráter diocesano é outra questão.
A ideia é reorganizar essas áreas e assumir como diocesano aquilo que realmente tem um caráter diocesano. Isso envolverá uma revisão e seleção criteriosa, onde estabeleceremos critérios claros. A abordagem será realista, apresentando a realidade como ela é. Às vezes, desejamos ter uma Diocese repleta de pastorais, mas, na prática, elas estão funcionando? Quem é quem? Estamos conduzindo um levantamento e vamos trabalhar com o que é mais próximo da realidade. Haverá um investimento significativo na formação, na área missionária, catequética e social, e a partir disso, as coisas começarão a se reestruturar.
Como as pastorais, movimentos e outros organismos vão poder contar com o Setor Pastoral?
Somos uma Igreja diversificada, mas mesmo com essa diversidade, a Igreja tem uma linha pastoral. A linha é a do Concílio Vaticano II, essa Igreja mais acessível, essa Igreja em saída, e isso deve permear todas as áreas, caso contrário, pode haver ainda mais divisão.
O primeiro passo é criar essa consciência e, em seguida, oferecer o respaldo necessário para que o trabalho aconteça. Isso envolve desde um acompanhamento mais próximo até o fornecimento de suporte nas formações necessárias. Acredito que, ao fortalecer essa consciência e oferecer suporte adequado, podemos garantir que o trabalho dos movimentos e pastorais esteja alinhado com a visão e os princípios da Igreja como um todo.
Existe previsão para a elaboração de um novo Plano de Pastoral? Quais passos serão dados para o levantamento das necessidades da Diocese?
Os passos para o novo plano ainda não foram definidos; estamos em uma fase de escuta e avaliação. O processo de escuta é irreversível; a missão é exatamente isso, ouvir e, a partir do que se ouve, tomar medidas. Se não der certo, refazemos. Com base no que a Igreja Universal experimentar durante o Sínodo e nos resultados do processo de Escuta realizado nas paróquias, teremos a oportunidade de criar um plano pastoral prático e alinhado com as necessidades reais de nossas comunidades.
É crucial ter uma percepção e uma visão do mundo, olhar a Igreja a partir da realidade do mundo. Precisamos fazer o movimento de ter a visão do outro, pois um movimento de mão única não é eficaz.
Durante o período de preparação, pretendo colocar em movimento minha proposta de ouvir os padres e leigos e imagino que o plano pastoral deva ser mais enxuto, mas mais realista, de modo a fazer a Igreja de Campo Limpo ter um plano mais ‘direto’. É crucial ter uma percepção e uma visão do mundo, olhar a Igreja a partir da realidade do mundo. Precisamos fazer o movimento de ter a visão do outro, entender a partir do olhar do outro, pois um movimento de mão única não é eficaz.
Sobre a Carta Pastoral, o que o senhor destaca?
Vejo na Carta Pastoral pontos muito interessantes e fundamentais para o que a Igreja precisa hoje. Destaco a centralidade da Palavra e a sinodalidade como passos cruciais. Estou cada dia mais convicto de que o desconhecimento da Palavra de Deus está gerando toda essa confusão. A Palavra tem a capacidade de unir os diferentes, e muitos dos grandes problemas que enfrentamos são problemas de convivência, de falta de comunicação.
Neste Ano da Oração, uma das propostas do Setor Pastoral é criar grupos para a reflexão da Palavra, resgatando a centralidade da Palavra na vida da comunidade e das pastorais. Acredito que isso é fundamental para a conversão e para estabelecer um contato mais profundo com a mensagem que ela nos traz.
Ano da Oração, Jubileu…o que nós, enquanto Diocese, iremos realizar?
Como Setor, estamos propondo a criação de grupos pequenos que irão meditar a Palavra, na expectativa de que isso comece como uma proposta e se torne uma realidade em todos os grupos, pastorais e movimentos da Diocese. Assim como o Sínodo, que não é apenas uma fase, mas um modo de ser Igreja, queremos trabalhar no sentido de as pessoas perceberem que não somos uma Igreja de eventos. Existe um pouco disso: falta a encarnação do trabalho na vida das pessoas; o cristão não está envolvido, ele é parte integrante. Portanto, nosso trabalho é fazer com que as pessoas entendam que tudo o que for proposto pode ter um marco motivador, mas deve ser assumido como uma realidade da Igreja. A questão do Sínodo, da centralidade da Palavra e da oração é crucial, pois é isso que faz a Igreja.
Como o senhor vê esse cenário de polarização e como é possível contribuir para amenizar a situação?
Vejo essa polarização como uma realidade presente, basta abrir as redes sociais e nos deparamos com isso, algo que chega a ser chocante. Existe uma falta de percepção da unidade da Igreja, as pessoas não compreendem que ao falar mal do Papa, do bispo, de um grupo, de uma pastoral, de um movimento, estão, na verdade, falando mal de si mesmas. Quando há algum problema, o ditado "roupa suja se lava em casa" se aplica, pois qualquer que seja a exposição, sobretudo nas mídias, depõe contra todos nós. Essa polarização está presente não apenas no governo e no mundo civil, mas infelizmente atingiu a Igreja.
Sobre amenizar esta situação, não tenho uma receita pronta, mas tenho uma ideia. Acredito que o caminho da escuta é fundamental. Todos têm suas defesas, e hoje tenho claro em minha mente que ninguém acorda de manhã planejando destruir a Igreja. Cada um tem dentro de si as melhores intenções, mas falta às pessoas perceberem que a intenção nem sempre está alinhada com a estratégia ideal.
As armas que estamos usando para resolver essas questões são as mesmas que alimentam a polarização. Precisamos questionar se as armas que escolhemos estão realmente levando à sinodalidade, ao objetivo que a Igreja nos pede. Se queremos construir o Reino de Deus, precisamos fazê-lo com as armas que Deus nos dá, e a principal delas é o amor.