Misericórdia que transforma: A Jornada Mundial dos Pobres na Diocese de Campo Limpo
Foi no final de 2016, durante o encerramento do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que o Papa Francisco instituiu o Dia Mundial dos Pobres. A data, marcada para o XXXIII Domingo do Tempo Comum, tornava-se um convite para a comunidade cristã viver a misericórdia de maneira concreta, sem reservas. O Papa, em sua Carta Apostólica Misericordia et Misera, afirmou: "As obras de misericórdia tocam toda a vida de uma pessoa. Por isso, temos a possibilidade de criar uma verdadeira revolução cultural a partir da simplicidade de gestos que podem alcançar o corpo e o espírito, isto é, a vida das pessoas."
Em Roma, a Diocese do Papa celebra o evento com uma Missa, um almoço fraterno para a população em situação de rua e oferece serviços médicos, cuidados com a higiene pessoal — gestos cotidianos que, naquele dia, ganham visibilidade. De forma simbólica e concreta, o evento serve para inspirar dioceses e comunidades cristãs ao redor do mundo, chamando-os para a ação.
Na mensagem para o VIII Dia Mundial dos Pobres, publicada em 13 de junho, o Papa Francisco recorreu ao livro de Eclesiástico: "A oração do pobre eleva-se até Deus" (Eclo 4,7). O tema escolhido foi “Ouve o meu clamor”, em sintonia com o ano dedicado à oração, preparando o coração da Igreja para o Jubileu Ordinário de 2025. Ele destacou, com a sabedoria de quem conhece a dor e a esperança dos pobres: “Neste ano dedicado à oração, precisamos fazer nossa a oração dos pobres e rezar com eles. É um desafio que temos de aceitar e uma ação pastoral que precisa ser alimentada. Com efeito, a pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual.”
A Jornada Mundial dos Pobres na Diocese de Campo Limpo
Em sintonia com o Santo Padre e a Igreja romana, a Diocese de Campo Limpo, em parceria com a Cáritas de Campo Limpo, celebrou pela quarta vez a Jornada Mundial dos Pobres. A Jornada Diocesana aconteceu no dia 09 de novembro, mobilizou centenas de voluntários e fez pulsar o coração da Igreja. Às seis da manhã, representantes das pastorais, grupos sociais e comunidades que trabalham com os mais necessitados se reuniram na Catedral Sagrada Família, preparando-se para um dia todo de atividades preparadas no espaço da Cáritas, próxima a Catedral.
Durante o dia, mais de 320 voluntários se dividiram para atender às mais de 300 pessoas em situação de vulnerabilidade que passaram pelas tendas de acolhimento. Mas, como sempre, as ações concretas não se resumem ao material. A comida foi servida, as roupas distribuídas, os atendimentos realizados — porém, nada disso era mais desejado por aqueles que chegaram até ali do que algo que não se vê, mas que se sente: o olhar sem julgamento, o abraço apertado, o ouvido atento. Eram os simples gestos de humanidade que mais tocavam os corações.
Os voluntários e organizadores, com seus corações ardentes de empatia, logo perceberam que, por mais que o auxílio material fosse necessário, o que aqueles homens e mulheres mais ansiavam era companhia. Uma boa conversa, um pouco de tempo para ouvir suas histórias, um olhar que não os tratasse como invisíveis. Eram gestos pequenos, mas grandiosos, como a acolhida de uma mãe que vê, naqueles filhos, o reflexo de sua própria dor e, ainda assim, os abraça com ternura.
A Cáritas Campo Limpo, entidade de promoção social que atua há 34 anos na defesa dos direitos humanos e na construção solidária de uma sociedade mais justa, esteve representada e participou da preparação e colaboração em todas as frentes de trabalho desta quarta Jornada Diocesana. Padre Hercílio Pessoa, presidente da entidade, fez questão de estar presente e de contribuir ativamente: “Participar é testemunhar e anunciar o Evangelho de Jesus Cristo. Como Cáritas, defendemos e promovemos toda forma de vida e participamos ativamente da construção solidária do bem viver, que é sinal do Reino de Deus.”
O Coordenador de Pastoral Padre Ezaques Tavares, o Coordenador da Pastoral Sócio-Transformadora padre Hailton Alves de França e o padre José Nelson da Silva Coordenador do Fórum das Pastorais Sociais, também estiveram presente e participaram das atividades.
No Brasil, a Jornada Mundial dos Pobres ganhou o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que adotou a ideia como uma maneira de aprofundar o compromisso das comunidades em ajudar os empobrecidos não apenas no Dia Mundial dos Pobres, mas durante todo o ano.
O dia de ação na Diocese de Campo Limpo não se limitou à entrega de alimentos ou roupas. Foi um dia de visibilidade para aqueles que a sociedade, muitas vezes, prefere ignorar.
Mais do que servir o pão, a Igreja se fez presente com o gesto de amor que acolhe, ouve e, acima de tudo, respeita.
Com o coração repleto de gratidão, os organizadores retornaram para suas casas, mas não sem antes saber que, ao menos por um dia, muitos sentiram-se vistos e ouvidos, dignificados por uma Igreja que, como uma mãe, se faz presente, especialmente, para aqueles que mais precisam de sua caridade.