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Presidência CNBB

Dom Frei Carlos: centros urbanos exigem respostas assertivas no trabalho de evangelização

Uma série de entrevistas ajudará o leitor a conhecer a vida, a atividade pastoral e os desafios da Presidência recém empossada do Regional Sul 1 para o próximo quadriênio. Confira, hoje, a conversa com o Secretário, de formação franciscana, que é Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo e atua na Região Episcopal Brasilândia.
 |  Andrea Rodrigues  |  Igreja no Brasil
Pascom I Regional Sul 1 da CNBB

Na última quarta-feira, dia 31 de maio, com o tema central “Uma Igreja em saída para as periferias”, o episcopado do Estado de São Paulo, reunido em Indaiatuba para a 85ª edição da Assembleia dos Bispos, no Mosteiro de Itaici, elegeu a Presidência que será responsável pela animação pastoral do Regional Sul 1, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no próximo quadriênio.

O encontro, que ocorreu entre os dias 30 de maio e primeiro de junho, além dos Bispos, também teve a participação dos padres coordenadores diocesanos de pastoral e lideranças dos organismos vinculados ao Regional Sul 1, e contou com a assessoria de Dom Joel Portella Amado, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro (RJ) e Presidente da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé da CNBB.

A Entidade paulista, composta por mais de 50 bispos,congrega seis arquidioceses, 36 dioceses, seis regiões episcopais, divididas em sete sub-regiões pastorais, a saber, Aparecida, Botucatu, Campinas, Ribeirão Preto I, Ribeirão Preto II, São Paulo e Sorocaba; duas eparquias e um exarcado: trata-se do maior regional da CNBB.

Dom Júlio Endi Akamine, Arcebispo Metropolitano de Sorocaba; Dom Moacir Silva, Arcebispo Metropolitano de Ribeirão Preto; e Dom Frei Carlos Silva, Bispo Auxiliar de São Paulo, foram escolhidos, respectivamente, como Presidente, Vice-Presidente e Secretário do Regional Sul 1, órgão por meio do qual a CNBB exerce sua missão evangelizadora no Estado, como indica o Regulamento do Conselho Episcopal Regional (CONSER).

A Comunicação do Regional entrevistou os membros da Presidência recém empossada e, nas próximas semanas, você poderá conhecer a vida, o trabalho e os desafios dos Bispos escolhidos para conduzir o Regional Sul 1. Confira, hoje, a conversa com Dom Frei Carlos. 

Um Bispo Franciscano

Frade capuchinho, ordenado bispo em 13 de fevereiro de 2021, Dom Carlos é o décimo filho, de onze irmãos, docasal José Silva e Maria Moura Silva. Nascido no interior do Estado, em Andradina, com a infância e a adolescência vividas na cidade de Birigui, o Secretário do Regional Sul 1é hoje, na Arquidiocese de São Paulo, Vigário Episcopal da Região Brasilândia.

Em 1984, iniciou sua formação no Seminário Seráfico São Fidélis, em Piracicaba, onde realizou a etapa do postulantado e dos estudos de Filosofia (1984 a 1986). Na mesma cidade, no Convento Sagrado Coração de Jesus, fez o noviciado (1987) e emitiu seus primeiros votos no dia 10 de janeiro de 1988, quatros anos após seu ingressona vida religiosa.

Dom Carlos estudou Teologia na Pontifícia Universidade Católica (PUC), de Campinas, e, no dia 12 de outubro de 1991, emitiu os votos perpétuos na Comunidade Nossa Senhora Aparecida, da Paróquia São Francisco, em Nova Veneza, Sumaré. Em 1º de agosto de 1992, foi ordenado sacerdote em Birigui, cidade onde anteriormente teve contato com a espiritualidade franciscana.

Entre os inúmeros serviços prestados à Província dos Capuchinhos  de São Paulo, o então Frei Carlos fez uma experiência missionária no México. Em sua dedicação à vida religiosa, exerceu a missão de Ministro Provincial em São Paulo por dois mandatos (2013 a 2018) e Presidente da Conferência dos Capuchinhos do Brasil (CCB). Nosetembro de 2018 foi eleito Conselheiro Geral da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, função que exerceu até sua nomeação como Bispo Auxiliar de São Paulo no mês de dezembro de 2020.

O Secretário do Regional iniciou seu trabalho pastoral na Região Episcopal Brasilândia no auge da pandemia do Covid-19. Mesmo assim, dedicou-se a visitar as paróquias e áreas pastorais. São 37 paróquias, duas áreas pastorais e,aproximadamente, 150 comunidades. Para ele, “pisar nesse chão, viver junto às realidades eclesiais e sociais tem sido uma oportunidade única para conhecer a vida de fé das pessoas e as realidades urbanas de uma grande metrópole tão desafiadora como São Paulo”.

Na perspectiva de continuar o trabalho dos que o precederam, porque reconhece que a história da região é contínua e marcada pelo protagonismo de tantos bispos, padres, religiosos e leigos, Dom Carlos tem doado sua vida a serviço do Reino. Seu trabalho pastoral acontece em comunhão com mais de 60 sacerdotes, algumas congregações religiosas (femininas e masculinas) e os diversos leigas e leigas. A região tem suas pastorais bem estruturadas, além da presença das novas comunidades, movimentos e obras sociais. São homens e mulheres, jovens, crianças, diversas famílias que levam à frente as propostas de evangelização definidas pelo Sínodo da Arquidiocese de São Paulo. A partir deste, de forma sinodal, Dom Carlos tem se esforçado para dar maior atenção ao trabalho com a juventude, com as famílias, bem como manifestar proximidade às pessoas que estão ligadas às pastorais sociais.

Após a pandemia, ele retomou as visitas pastorais, o que lhe permite, segundo ele, “conhecer mais de perto a vida do povo de Deus e suas necessidades e sonhos”. É o desejo de se fazer presente enquanto Igreja na vida das pessoas, que buscam na Palavra de Deus a força e a inspiração para seguirem testemunhando a fé e transformando as realidades. Ele afirma: “são grandes os sinais de esperança em nosso meio, isso porque mantemos nosso olhar fixo no mestre e senhor da vida: Jesus Cristo”.

Decisão, Coragem e Atitude

Em continuidade à entrevista, o Secretário recém empossado afirmou que encara a eleição como um serviço prestado a Deus e à sua Igreja. “Em nosso regional, temos realidades bastante diferentes, contrastantes”, disse. Dom Frei Carlos destacou, por exemplo, que os grandes centros urbanos paulistas, que crescem em população e infraestrutura a cada dia, “exigem da Igreja urbana respostas assertivas no trabalho de evangelização e nos desafios eclesiais”.

O Bispo Auxiliar de São Paulo explicou que problemas sociais  graves, como a fome, a falta de moradia digna, o consumo de drogas, a saúde pública precária, a falta de segurança, o alto índice de desemprego, sobretudo entre os jovens, a informalidade, acompanham e desafiam a pastoral nas grandes cidades. “Por outro lado, temos dioceses com grandes áreas rurais, que, do mesmo modo, requerem de seus pastores um trabalho cuidadoso e uma presença esperançosa no meio do povo de Deus, para seguirmos em frente, vivendo nossa fé e construindo seuReino”, lembrou.

Ao retomar as motivações de Dom Joel na Assembleia que o elegeu Secretário, Dom Frei Carlos disse que o assessor enfatizou os parágrafos 365 e 370 do Documento de Aparecida, texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, realizada no Brasil, em 2007, que abordam a necessidade de abandonar estruturas ultrapassadas que já não favorecem a transmissão da fé e destacam a urgência em realizar a passagem de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionaria.

“Esses dois pontos são inspiradores, e acredito que nos ajudarão, nos próximos quatro anos, a corresponder ao pedido do Papa Francisco de uma Igreja sinodal e missionária, atenta à escuta das diversas vozes que ecoam em nossa ação evangelizadora”, completou.

Sobre a atuação pastoral da Presidência eleita e as perspectivas de seus esforços na animação do trabalho evangelizador, o Secretário concluiu afirmando que, “sem dúvida, um dos nossos maiores desafios é deixar de ser uma Igreja autorreferencial para se tornar Igreja em saída, que olha para fora de si, para o outro. Isso implica decisão, coragem e atitude: sair, ir ao encontro, avançar, viver aquilo que é da natureza da Igreja: a missionariedade”.